Anacoreta
O peso da responsabilidade que a cultura anglo-saxã atribui aos indivíduos espalha algumas miragens ao longo das nossas curtas vidas.
Erich Fromm, por exemplo, tentou nos convencer de que é possível desenvolver o amor se o encaramos assim como um bom músico encara seu instrumento. Praticando diariamente, estudando e cultivando com paciência nosso talento que florescerá na mesma medida do nosso esforço. Em outras palavras; todo depende de nós...
Contrapondo-se a este otimismo individualista estão os sujeitos das estatísticas, que poucas vezes conseguem amar dessa maneira porque o peso do contexto familiar e social lhes retira toda calma e concentração para amar alguém como quem ama um instrumento musical.
Diante da falta de forças internas que um assalariado tem, depois de doze horas de trabalho e três horas de ônibus lotado, para amar ao seu amor serenamente, resta pensar que não é tão má idéia voltar a acreditar nas miragens da cultura anglo-saxã.
Quem sabe, acreditar nas ilusões de ótica ao mesmo tempo que as destruimos, respondendo emocionalmente ao mundo dos fins. Um exemplo: se seu chefe (do tipo Roberto Justus) quer lhe repreender porque você não completou aquela tarefa, você pode argumentar que falta nele algo de sensibilidade artística. Talvez você seja um funcionário impressionista. Paul Cezzane, por exemplo, expôs quadros em que os objetos não estavam totalmente terminados. R.M. Rilke diz que Cezzane tinha pintado algumas maçãs até onde ele conseguia conhece-las, o resto permanecia um mistério.
Então depende de nós transformar nossa qualidade de mercadorias e resgatar nossa natureza silenciosa de sujeitos esquecidos (isto minha amiga Lenise Sampaio sabe fazer bem)
As mercadorias imploram para serem amadas, por isso necessitam urgentes de ideologias. A coisa funciona assim: as mercadorias das vitrines necessitam do marketing para serem desejadas e nós necessitamos das mercadorias pelo mesmo motivo.
Depende de nós intensificar as relações com o mundo, com nossos amores incluindo nossos amigos. Voltar a sentir a purificação estética da existência do musgo como me ensinou Cecilia Oliveira numa noite estrelada.
Depende de cada um largar a presa. É isso que podemos apreender do anacoreta.
Anacoreta = lat. anachoreta = greg. anakhõrêtês = eu me retiro...
Já tinha aprendido com Jhon Seymur: que se não podemos ser totalmente auto-suficientes, pelo menos podemos fazer nosso pão”. Isto já eu faço...
Como não desejo ser anacoreta, amanhã vou me fixar intensamente nos olhos da Cinthia e repetir o velho adágio latino que é a antítese do pirata: “encontrei o porto, esperança e fortuna ADEUS”
Abraços a todos Eladio Oduber
Conferir: Manguel A. Lendo Imagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Imagem: Pimentera incompleta / Eladio Oduber, agosto 2005
PS: Dedico este texto com carinho aos amigos João Paulo e Flavia.
Erich Fromm, por exemplo, tentou nos convencer de que é possível desenvolver o amor se o encaramos assim como um bom músico encara seu instrumento. Praticando diariamente, estudando e cultivando com paciência nosso talento que florescerá na mesma medida do nosso esforço. Em outras palavras; todo depende de nós...
Contrapondo-se a este otimismo individualista estão os sujeitos das estatísticas, que poucas vezes conseguem amar dessa maneira porque o peso do contexto familiar e social lhes retira toda calma e concentração para amar alguém como quem ama um instrumento musical.
Diante da falta de forças internas que um assalariado tem, depois de doze horas de trabalho e três horas de ônibus lotado, para amar ao seu amor serenamente, resta pensar que não é tão má idéia voltar a acreditar nas miragens da cultura anglo-saxã.
Quem sabe, acreditar nas ilusões de ótica ao mesmo tempo que as destruimos, respondendo emocionalmente ao mundo dos fins. Um exemplo: se seu chefe (do tipo Roberto Justus) quer lhe repreender porque você não completou aquela tarefa, você pode argumentar que falta nele algo de sensibilidade artística. Talvez você seja um funcionário impressionista. Paul Cezzane, por exemplo, expôs quadros em que os objetos não estavam totalmente terminados. R.M. Rilke diz que Cezzane tinha pintado algumas maçãs até onde ele conseguia conhece-las, o resto permanecia um mistério.
Então depende de nós transformar nossa qualidade de mercadorias e resgatar nossa natureza silenciosa de sujeitos esquecidos (isto minha amiga Lenise Sampaio sabe fazer bem)
As mercadorias imploram para serem amadas, por isso necessitam urgentes de ideologias. A coisa funciona assim: as mercadorias das vitrines necessitam do marketing para serem desejadas e nós necessitamos das mercadorias pelo mesmo motivo.
Depende de nós intensificar as relações com o mundo, com nossos amores incluindo nossos amigos. Voltar a sentir a purificação estética da existência do musgo como me ensinou Cecilia Oliveira numa noite estrelada.
Depende de cada um largar a presa. É isso que podemos apreender do anacoreta.
Anacoreta = lat. anachoreta = greg. anakhõrêtês = eu me retiro...
Já tinha aprendido com Jhon Seymur: que se não podemos ser totalmente auto-suficientes, pelo menos podemos fazer nosso pão”. Isto já eu faço...
Como não desejo ser anacoreta, amanhã vou me fixar intensamente nos olhos da Cinthia e repetir o velho adágio latino que é a antítese do pirata: “encontrei o porto, esperança e fortuna ADEUS”
Abraços a todos Eladio Oduber
Conferir: Manguel A. Lendo Imagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Imagem: Pimentera incompleta / Eladio Oduber, agosto 2005
PS: Dedico este texto com carinho aos amigos João Paulo e Flavia.