Sobre pesquisa e outras infâmias

Diário de campo de dois espectadores e um pródigo bucaneiro.

terça-feira, novembro 25, 2008

Anjos, xícaras, sacolas, sonhos

“Que coisa deliciosa é amarrar os cadarços dos sapatos”
Ana Cecília.
Sábado 23/11/2008, no meu quarto.


Depois fui tomar café da manhã com Cinthia, propositadamente escutando o “Cravo Bem Temperado” de J.S. Bach. Sentindo a impressionante autonomia do piano no barroco.

Cinthia, com uma xícara de café a metade do caminho, comentou que evita procurar chateações, por que elas chegam sozinhas. Da mesma forma, evita tirar o idealismo de quem quer que seja, por que com o tempo, ele vai embora também sozinho.

Idealismo juvenil. Orgulhamos-nos de tê-lo perdido. Assim, ficamos ex-fumantes, ex-militantes, ex-caminantes...

Estando em casa, minhas amigas idealistas não acreditaram quando souberam que eu não separo o lixo e que, ainda por cima, compro sacolas plásticas para jogar o lixo misturado.

Era isto que Augusto dos Anjos queria dizer com aquilo de “quebrar a imagem dos próprios sonhos”

P. Bourdieu e J. Habermas tinham razão quando, já na maturidade intelectual, depositaram suas esperanças de mudança social no idealismo da juventude politizada.

Uma juventude radicalmente idealista e politizada é alguma garantia de maturidade decente. Decência no sentido de pensar nas conseqüências de certos comportamentos.

Depois que as minhas amigas foram embora fiquei olhando para o lixo, olhei para as sacolas plásticas e pensei se meu idealismo não tinha ido embora, devagarzinho, misturado dentro daquelas sacolas.

Eladio

PS: para que as imagens dos sonhos da Eunice, Tâmara e Luiza demorem a quebrar.

Imagem: Eladio Oduber / Noite e Narguilé / acrílico sobre cartão / 2006

sábado, novembro 01, 2008

Dez aforismos

1. Uma educação construída com olhares severos também é muito perniciosa;

2. Trocar o ócio pelo zelo é a mesma coisa que vender a pérola do coração;

3. É bom banhar nossos cavalos para a grandeza de Deus (San Ignácio de Loyola) e não somente por que estão sujos (Don Quijote);

4. Não olhes para teu filho (ou semelhante) como quem olha um canivete suíço;

5. Se tens a profissão de levar mulas para o rio, pelo menos sub-contrata aquele que há de obrigá-las a tomar água;

6. Oferece todos os dias uma víscera ao corvo que crias. Porém, lembra que o que ele deseja mesmo é o brilho dos teus olhos;

7. A potencia que a vida pede para ser vivida é infinitamente superior ao chamado “instinto de conservação” (Nietzsche);

8. Que a objetividade não te engane: a etnografia que fazes sobre o mundo é também tua opinião sobre o mundo;

9. Para que procurar a verdade a todo preço? (Nietzsche)

10. Uma mulher inteligente, bem humorada, e com belas costas é uma lareira com lenhos verdes que prolonga nossa agonia enquanto nela ardemos;

Bons sonhos

Eladio Oduber

Conferir qualquer livro do Gustavo Bueno (filósofo espanhol), Federico Andahazi (romancista argentino) e Frederich Nietzsche.