Bella Vista
No ano de 1982 meu melhor amigo na Venezuela, Manuel Castañeda, tinha acabado seu namoro com a jovem Nereida Asunción. Eu, que na época dava mais valor a minha volição do que aos amigos, parti na direção da recém ex-namorada do meu amigo e tentei seduzi-la numa festa. Ela discretamente rejeitou-me. Poucos dias depois, Manuel e Nereida voltaram o namoro, só que agora com um triunfo na mão da Nereida - o melhor amigo do seu namorado havia cedido às fraquezas dos desejos e tentou laçá-la. E, o pior; ela contou tudo para Manuel.
A partir de então um continente gelado atravessou-se entre nós. Passaram-se meses de silêncio até que Manuel tomasse alguma providência a respeito. Uma noite, meu amigo Manuel apareceu lá em casa e, debaixo do braço, uma garrafa de “Cacique”, um rum venezuelano daqueles que assusta qualquer flibusteiro.
Colocamos as armas e os corações na mesa, tratamos do assunto tentando ser razoáveis. A questão se resolveu mais rápido que o esperado, a final a saudade revelou-se maior que o impasse.
Entretanto, de forma inconsciente, decidimos selar nosso encontro com um perigoso ritual...
Lá pela vigésima dose de Cacique Manuel me comentou:
- Você reparou como os filhos da p... da Coca-cola espalharam avisos luminosos em todos os pontos de ônibus da cidade?
A partir desse comentário tomamos as providências para acabar, nessa mesma madrugada, com as propagandas da Coca em Maracaibo.
Saímos às duas da manhã, pichamos e destruímos as duas primeiras, na terceira tentativa um carro da polícia fechou minha brasília verde escura.
Na delegacia, no meio do interrogatório, lembrei-me que havia dias, nem sei porque razão, eu carregava escondido na brasília, uma pistola de plástico muito parecida com uma arma verdadeira. Antes de que os policiais a encontrassem Manuel e eu decidimos comunicar o fato.
Continuando o interrogatório o meu amigo Manuel possuído de uma irreverência etílica pegou um jornal que estava na mesa do delegado e matou uma barata pousada na parede próxima a nós. Resultado: fomos imediatamente transferidos para o presídio de Bella Vista no centro da cidade de Maracaibo.
Chegamos lá às 3:45 da madrugada. Lembro-me da ordem do carcereiro:
- Tire os cadarços dos sapatos, tire também o cinto...
A porta de ferro de uma grande cela escura abriu-se e era impossível dar um passo para entrar porque o chão estava tomado pelos mais ou menos 60 presos que ali dormiam.
Manuel entrou primeiro, depois eu. O carcereiro fechou a grade. Eu, sem poder deitar, acomodei meu pê direito no meio da axila de um corpo estendido e meu pê esquerdo ficou colado no pescoço de um outro corpo.
Como não conseguimos ir além do limiar da cela, o sol das sete da manhã iluminou as ressacas física e moral da noite anterior. Amanheci pendurado nas grades como um animal no açougue.
Os quatro dias que vivi no presídio de Bella Vista, eu conto outra noite.
Colocamos as armas e os corações na mesa, tratamos do assunto tentando ser razoáveis. A questão se resolveu mais rápido que o esperado, a final a saudade revelou-se maior que o impasse.
Entretanto, de forma inconsciente, decidimos selar nosso encontro com um perigoso ritual...
Lá pela vigésima dose de Cacique Manuel me comentou:
- Você reparou como os filhos da p... da Coca-cola espalharam avisos luminosos em todos os pontos de ônibus da cidade?
A partir desse comentário tomamos as providências para acabar, nessa mesma madrugada, com as propagandas da Coca em Maracaibo.
Saímos às duas da manhã, pichamos e destruímos as duas primeiras, na terceira tentativa um carro da polícia fechou minha brasília verde escura.
Na delegacia, no meio do interrogatório, lembrei-me que havia dias, nem sei porque razão, eu carregava escondido na brasília, uma pistola de plástico muito parecida com uma arma verdadeira. Antes de que os policiais a encontrassem Manuel e eu decidimos comunicar o fato.
Continuando o interrogatório o meu amigo Manuel possuído de uma irreverência etílica pegou um jornal que estava na mesa do delegado e matou uma barata pousada na parede próxima a nós. Resultado: fomos imediatamente transferidos para o presídio de Bella Vista no centro da cidade de Maracaibo.
Chegamos lá às 3:45 da madrugada. Lembro-me da ordem do carcereiro:
- Tire os cadarços dos sapatos, tire também o cinto...
A porta de ferro de uma grande cela escura abriu-se e era impossível dar um passo para entrar porque o chão estava tomado pelos mais ou menos 60 presos que ali dormiam.
Manuel entrou primeiro, depois eu. O carcereiro fechou a grade. Eu, sem poder deitar, acomodei meu pê direito no meio da axila de um corpo estendido e meu pê esquerdo ficou colado no pescoço de um outro corpo.
Como não conseguimos ir além do limiar da cela, o sol das sete da manhã iluminou as ressacas física e moral da noite anterior. Amanheci pendurado nas grades como um animal no açougue.
Os quatro dias que vivi no presídio de Bella Vista, eu conto outra noite.
Abraços do Eladio
PS: Este texto e sua imágem estão carinhosamente dedicados ao meu amigo e grande artista Diego Luiz Santos.
Imágem: Vaso / Eladio Oduber agosto 2006
6 Comments:
Querido amigo,
Bella vista é a história de uma bela vida, de experiencias e de muita verdade.
Fico emocionada e orgulhosa ao ler os seus textos e perceber que além da poesia que está impregnada existe uma pessoa de visaõ profundada do ser autentico.Meu orgulho e felicidade é que você está tão proximo, simples e muito amigo.
Beijos
que legal que o texto voltou! Eu tinha gostado dele desde o início.
Abraços,
Bruno
Luego de tanto tiempo lo intacto y lo indeleble de una amistad, peremne atraviesa la nostalgia el vertigo la vida misma; tengo noticias de ti, aun como el coronel que no tiene quien le escriba. llega a la escuela de Criminologia un batuque un cochinito entre tuberias de arterias averiadas encontraste con calores y frios y uno que otro trago de aguardiente que no termino por abandonar. desafiamos las lineas paralelas porque siempre chocamos en algun punto y por primera vez abro un correo electronico para comunicarme, alguna vez pence que solamente lo abriria para comunicarme con dios o la nada, ya ve usted, no fue así; me comunico con el amigo de siempre iguakl que la noche o la empanada, el piano o la guitarra, que más da, es lo mismo, es la vida misma que siempre nos prepara una celada de la cual nunca podremos safarmos.
Un abrazo a las cervesas pendientes con mi amigo Wilfredo Machado y a ti tambien un abrazo a quienes siempre recuerdo.
De usted Miguel Contreras
AUN CONSERVO UNAS LINEAS ESCRITAS EN ENERO DEL 88 EN SALVADOR BAHIA, EN DONDE NARRAS UNAS VIVENCIAS EN PAISANDÚ, ¿RECUERDAS A COLOMBO?!!! TUS CAMINATAS POR LAS ORILLAS DEL RIO? ¿RECUERDAS A OSVALDO? TAL VES A MARIA ROSA? MUJER DE ALTA COCINA, DE PIANO, Y LUEGO LA COSA SE COMPLICA EN UN ROMANTICISMO DEL SIGLO PASADO DE BANDONIONES, TANGOS Y VINO; SEGURO QUE MEJOR RECORDARAS A ALCINO CASTRO UNO DE LOS PERSONAJES DEL CSMPO MAS ARRECHOS QUE HAS CONOCIDO; Y SEGURO NO OLVIDAS ESA NOCHE DONDE APARECIO EN EL CAMPAMENTO UNA JOVCEN LLAMADA LAURA DE OJOS MUY NEGROS, CABELLOS MUY NEGROS Y DE TEZ MUY CLARA EN AQUYELLA CARPA QUE SIEMPRE VISITABA, QUIZAS TODAVIA RECUERDES TUS PASEOS POR EL PUEBLO EN BICICLETA; RECXUERDAS LA HERMOSURA QUE NUNCXA NECESITA ADFORNO DE NADA, CUATRO GATOS, UNA PERRITA BE-BOP Y UN PERRO LLAMADO RAG Y OTRO SWINGI... SEGURO QUE HAS OLVIDADO MUCHO DE ESAS COSAS O TAL VEZ NO; YO CONSERVO ESTE TEXTO Y PORSUPUESTO EN TANTAS NOCHES DE SOLEDAD Y SEDENTARISMO ADOQUINADO COMO CUALQUIER MORTAL PEREGRINO QUE VA DEJENDO LA VIDA Y EL ALMA EN LA COTIDIANIDAD DE UN TEATRO LLAMADO TRABAJO QUE NO TERMINA POR ENCANTAR A LA VIDA MISMA. A VECES TRATO DE ESCAPARME PERO EL BOZAL DE AREPA ESTA MUY BIEN ENCAJADO EN ESE CONFORMISMO QUE TERMINA POR SER LA NEGACION DE LA EVENTURA DEL AZAR DEL VERTIGO. Y AHORA VAMOS POR LO MENUDO VIVO EN UN APARTAMENTO TIPO ESTUDIO, UNA HABITACION, FALTA UNA HAMACA, LA DEL VIEJO CORNELIO O LA INOCENCIA DE MECORITO EN FIN ME JUNTO CON LOS JOVENES PARA CHUPARLES ALGO DE JUVENTUD, SIN ENBARGO EN ALGUNOS CASOS ME EQUIVOCO, O SON MARICOS SIN GLAMUR CHABACANOS Y MAJUNCHES Y OTROS ESTAN MAS VIEJOS QUE YO, MENOS ATREVIDOS Y PARECEN CONCHAS DE HUEVO VACIOS. LO DEMASD LO SEGUIREMOS CONTANDO PERO RECUERDA LA MUSICA SIEMPRE ESTARA ATRAPANDONOS POR CIERTO HAS ESCUCHADO HA ALEJANDRO FILIO O ALBERTO PLAZA, ISMAEL SERRANO EL ESPAÑOL, CANTA PARECIDO A SERRAT?. EL SOL CLAVA SU EJE PERPENDICULAR AL ESPINAZO ES LA HORA DE BUSCAR A LINDA UN ABRAZO Y SEGUIREMOS EN ESTA INVENCION HUMANA DE CORREOS A LOS CUALES NO SE LES ADMITE UNA CHISPA DE SANGRE DE SUDOR O DE HUMORES. UN ABRAZO
DE USTED MIGUEL CONTRERAS
muy bella vista! a vida não é mesmo um problema de economia. seu percurso é prazeroso a medida em que se enraiza na sensação da magnificente super-abundância da realidade. a tristeza milenar não trepa. contra nuestra bella vista há um manancial histórico do fundamentalismo eunuco neo-puritano sem clitóris. quanto ressentimento nossa pureza pode suportar? que todo erotismo seja conspirador! seduções ubíquas e oblíquas! não há genialidade sem crimes e nem aventuras!
HEYYYYY... estoy vivo!
terminemos de voltearle la pantaleta a la tierra.
habla Enrique Colina, desde Sta Lucia, Maracaibo.
enrique_colina@hotmail.com
0261-7934020
Saludos, Feliz Navidad.
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