Bird

Parece-me este o caso do Dostoiévski por quem desenvolví um temor inexplicável. No instante em que escrevo este blog leio a pg. 123 de
“O Jogador” na edição brasileira da L&PM Pocket. A vovô Antonina Vassilievna já chegou no casino das águas termais e submeteu aos seus desígnios cada um das personagens da trama...
A cada palavra da Antonina fica desvelado o “catecismo das virtudes e dos méritos do homem ocidental civilizado”. Lembrei-me do Vítor Hugo que, em dias alternados, tomava um punhado de moedas e em voz alta dizia; “ eu ganhei vocês... falo isto para que fique bem claro quem é dono de quem”
Pessoalmente agradeço às falas destes artistas as luzes sobre o que se considera o principal mérito desse homem ocidental civilizado: a adquisição de capital...
No cortejo, as outras virtudes: trabalhar muito e honestamente, ficar a tal ponto honesto que o mundo apresente sua mão aberta para receber nossa palmatória. Ler livros de auto-ajuda, submeter nossos impulsos aos chavões sentimentais. Ir à academia, sair de férias, fazer acupuntura para aliviar o peso nas costas.
Ser cordiais, engolir sapos, baratas, combater os vícios do corpo, ignorar os vícios da alma. Ter ciúmes da esposa, e continuar a edificar este mundo com a resignação de um tatu.
Abraços do Eladio Oduber
Conferir: qualquer livro do Feódor Dostoiévski
Imagem: Bird / Eladio Oduber . Enero 2007.