Café
Cultivar a arte de viver bem pressupõe desconfiar muito de se mesmo. Isto é, enquanto a mão direita mexe na panela da exuberância do espirito a mão esquerda prova o guiso da orgia intelectual. Em termos práticos, o bem viver, já diziam os antigos pela voz do meu recém amigo Mariano, se resume a dois movimentos. O primeiro, relacionado com um tipo de exagero interior, a “euforia”, em que tragamos com gula a cornucópia do mundo. Melhor dito, encontramos os amigos, fumamos, tomamos cerveja, estudamos, flertamos, pechinchamos, cochilamos, tornamos a vida densa e acre.
O segundo movimento é relativo ao mundo externo, a “disforia”. Uma sorte de vomito expressivo que propiciam os caldos estomacais que, por sua vez, expulsam as representações das representações. Em outras palavras, abrimos o dique das nossas pestilenciais defecando a ópera do lirismo interior. Um poema, um quadro, um gesto. Assim como o autoritarismo tem sua fonte no auto controle, a liberdade nasce da auto desconfiança.
É preciso, muitas vezes, duvidar dos desejos, dos motivos que atribuímos às nossas ações. Deixar, então, que o telos eufórico e disfórico realize seu ciclo, dinamize o rumo da vida a ser vivida, se manifeste através de nós, frágeis instrumentos.
O segundo movimento é relativo ao mundo externo, a “disforia”. Uma sorte de vomito expressivo que propiciam os caldos estomacais que, por sua vez, expulsam as representações das representações. Em outras palavras, abrimos o dique das nossas pestilenciais defecando a ópera do lirismo interior. Um poema, um quadro, um gesto. Assim como o autoritarismo tem sua fonte no auto controle, a liberdade nasce da auto desconfiança.
É preciso, muitas vezes, duvidar dos desejos, dos motivos que atribuímos às nossas ações. Deixar, então, que o telos eufórico e disfórico realize seu ciclo, dinamize o rumo da vida a ser vivida, se manifeste através de nós, frágeis instrumentos.
Eladio Oduber.
Recomendo bater um papo com: Mariano, Leo Pimentel, Sandra Kretly, Cecilia e Cinthia Oliveiras e Solange Miguel Marcondes Armando.
Ler: GRAF, Christine & GRAF, Dennis. "Café Life in Paris: a guide book to the cafés and bars of the city of light". Massachusetts: Interlink Publishing, 2006.
Escutar: Driftin (the Blue Note Years) Herbie Hancock
Imágem: Invierno / Eladio Oduber. Novembro, 2006
4 Comments:
muito legal o texto, como sempre. Mas alguns chamam a esse estado a tal da bipolaridade. Esquecem os pseudopsicólogos que a vida é dicotômica.
Portanto, vamos a um cafézinho.
abs
David
Sem desmerecer os textos, tenho dado atenção especial aos quadros, fascinantes!
Beijos
Marina
Me fez lembrar que, mesmo quando pensamos sozinhos, parece que nossa mente dialóga com si própria. Daí a essa (bi)multipolaridade de espírito e atitude nao seria algo inseparável de nós mesmos?
Eladio, saudades dos seus textos.
obrigado Ela, a autodesconfiança será porque nos hemos "autotraído" ja alguma vez?
abrazo desde Uruguai, tu blog se lee aquí
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