Sobre pesquisa e outras infâmias

Diário de campo de dois espectadores e um pródigo bucaneiro.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Organillero

Queridos amigos:
Hoje levantei decidido a almoçar pos-modernidade, chutar cachorros, dançar com uma modelo, sobornar o organillero; quem adivinha que significa essa última palavra? É aquela personagem que toca um realengo enquanto um macaquinho pede esmola. Organillero é uma palavra linda uma das poucas que tenho saudades em espanhol, espanhol-linguiça; até o Garcia Marques ficou demodé, ele tem que pegar uma prancha de windsurf e ficar lá em Salvador tirando onda. Estou decidido hoje a fazer cafuné no Salvador Dalí, dar uma banana aos capitais estrangeiros. Há coisas tão urgentes meus camaradas...dentre elas, tocar salsa. Que coisa boa é morrer neste mês de tanto vento solar, passo pelas vitrines e quánticamente as coisas grudam em mim e continuam como chicletes me perseguindo.

Abraços do Eladio

Imagem: Organillero / Daniel Aravena Donaire /Chile, 2005.

sábado, setembro 02, 2006

Oximoronia

Meu cavalo andou, nesses dias, se queixando do peso das minhas armaduras. Mal ele sabia que era a densidade da minha alma que o incomodava.

O mal humor é uma moléstia infame que gosto de mostrar pelas frestas das palavras, assim em languidas prestações ao longo do dia.
O mal humor deveria ser tratado com métodos mais radicais. Por exemplo; quimioterapia. Ou com doses de piedade sobre nossa oximoronia.

Ser uma coisa e ao mesmo tempo seu contrário é tarefa para almas gloriosas. Viver a esquizofrenia sem fragilizar a tênue fronteira das nossas identidades. Meus amigos feitos à imagem e semelhança de Deus, levam, em geral, vidas desregradas. Seus corpos são templos da indolência cujos telhados caem ao passar crônico dos dias.

Para que então qualidade de vida? O que fazer com tanta saúde depois que os amigos se vão de mãos dadas com os seus vícios. Ou é muito o meu otimismo mórbido achar que eles vão primeiro.
Enquanto o Lobo do tempo, que leva tudo e tudo devora, não vem, fujamos do “cortejo dos hábitos esclerosantes, da certeza do espaço e da quietude da norma.

Eladio



A Guilherme Montenegro, distinto leitor e advogado lúcido, em homenagem ao seu constante bom humor.



Conferir: MAFFESOLI, Michel. Sobre o nomadismo: vagabundagens pós-modernas. Rio de Janeiro: Record, 2001.

Imagem: Brinquedo com flores / Eladio Oduber setembro de 2006.