Arqueologia dos brinquedos.
Sempre que chego do trabalho, tarde da noite, e me tropeço com os brinquedos da Ana Cecília, espalhados pelo chão do apartamento, imagino como deve sentir-se o arqueólogo diante de uma descoberta.
Brinquedos abandonados são como vestígios de civilizações antigas, indícios, pistas, expressões externas de misteriosos desejos internos: duas bonecas deitadas numa toalhinha, um pássaro de pelúcia abraça um dinossauro de pano, ambos da cor verde. Um espelinho, uma pequena escova cor de rosa. A sereia sem cabeça está sentada na carruagem, sem cavalo, da princesa. Tenho pena da ciência que se proponha interpretar estes arranjos.
No século XIX quando a “máquina” era uma metáfora dominante, a sociedade foi comparada ao mecanismo de um relógio. Não era possível entender o relógio olhando as horas. Era preciso abri-lo para conhecer seu funcionamento ... diziam os positivistas. Por esta razão os desejos internos que as pessoas externalizavam não podiam ser tomados como verdadeiros.
Posteriormente, quando o conceito “energia” passou a dominar o imaginário das pessoas e dos cientistas, os elementos “não materiais” da sociedade cobraram importância, então, era necessário conhecer as “motivações subjetivas ou culturais dos atores para entender como funciona a vida em grupo. Os comportamentos observáveis dos atores foram tomados como elementos importantes na composição deste universo subjetivo.
Hoje, nos tempos da “infinita literalidade” virtual, o conceito de sociedade perdeu seu valor heurístico. Existem tantos tipos e recortes de sociedade que o cientista se afasta da armadilha vitrificadora do fluxo de informações e práticas sociais. Estas se comportam como uma rio de lava cobrindo os frágeis conceitos sobre o mundo dos desejos humanos.
Brinquedos abandonados parecem sonhos. Figuras, gêneros e tamanhos diferentes de objetos que se misturam sem hierarquia aparente. A ciência dos ícones, sinais e símbolos fica arrepiada nesta hora.
O que significa aquela ovelinha branca e languida ao lado da Hello Kitti?
Sinceramente, não me interessa saber... Seria como perguntar o que significa aquela nuvem, ou o significado daquela ventania ou do canto do grilo na noite aveludada.
Na presença de certas coisas eu prefiro soltar algumas lágrimas.
Abraços do Eladio e Cinthia.
Imagem:Taller de la luna / Federico Percibal 1988
No século XIX quando a “máquina” era uma metáfora dominante, a sociedade foi comparada ao mecanismo de um relógio. Não era possível entender o relógio olhando as horas. Era preciso abri-lo para conhecer seu funcionamento ... diziam os positivistas. Por esta razão os desejos internos que as pessoas externalizavam não podiam ser tomados como verdadeiros.
Posteriormente, quando o conceito “energia” passou a dominar o imaginário das pessoas e dos cientistas, os elementos “não materiais” da sociedade cobraram importância, então, era necessário conhecer as “motivações subjetivas ou culturais dos atores para entender como funciona a vida em grupo. Os comportamentos observáveis dos atores foram tomados como elementos importantes na composição deste universo subjetivo.
Hoje, nos tempos da “infinita literalidade” virtual, o conceito de sociedade perdeu seu valor heurístico. Existem tantos tipos e recortes de sociedade que o cientista se afasta da armadilha vitrificadora do fluxo de informações e práticas sociais. Estas se comportam como uma rio de lava cobrindo os frágeis conceitos sobre o mundo dos desejos humanos.
Brinquedos abandonados parecem sonhos. Figuras, gêneros e tamanhos diferentes de objetos que se misturam sem hierarquia aparente. A ciência dos ícones, sinais e símbolos fica arrepiada nesta hora.
O que significa aquela ovelinha branca e languida ao lado da Hello Kitti?
Sinceramente, não me interessa saber... Seria como perguntar o que significa aquela nuvem, ou o significado daquela ventania ou do canto do grilo na noite aveludada.
Na presença de certas coisas eu prefiro soltar algumas lágrimas.
Abraços do Eladio e Cinthia.
Imagem:Taller de la luna / Federico Percibal 1988