Iconoclastia
Iconoclastia, além de uma palavra, é um efeito sonoro de computador. É aquele som de coisa frágil quebrando que a gente pode usar nas apresentações de power point. É também um vício , um gesto espontâneo, irrefletido, como aquele mil vezes repetido do caubói que vira a mesa do jogo de pôquer e começa a atirar. Naqueles tiroteios havia sempre o estilhaçar de vidros: das mangas dos lampiões às garrafas logo acima da cabeça do barman – sempre pretensamente neutro. Reajo às cartas marcadas do pensamento como um caubói dos faroestes de antigamente: sem muita reflexão e lançando projéteis que querem estilhaçar a fragilidade do lugar-comum que se pretende inatingível ou inquebrável. (Não dá pra querer ganhar de um pistoleiro profissional com cartinhas marcadas ou com movimentos de mãos já meio enlanguescidos pelo uísque).
Alcanço a perfeição mesmo quando não contenho minha verve, mas a cena tem um tom de comédia e o mocinho é meio clown, como o Trinity. Se tudo dá certo, meus disparos são só um bangue-bangue, um tiroteio divertido, ruidoso. (Nada que se aproxime à reverencia silenciosa das metralhadoras do primeiro Matrix).
Acho que é isso: silêncio não combina com iconoclastia. Digamos que não cai bem. Nem silêncio, nem reverência.
Cinthia Oliveira
Para o Luiz Fernando, como um pedido de desculpas.
Imagem: Sancho Krazz / Eladio Oduber / maio 2008
