Sobre pesquisa e outras infâmias

Diário de campo de dois espectadores e um pródigo bucaneiro.

segunda-feira, maio 05, 2008

Iconoclastia

Iconoclastia, além de uma palavra, é um efeito sonoro de computador. É aquele som de coisa frágil quebrando que a gente pode usar nas apresentações de power point. É também um vício , um gesto espontâneo, irrefletido, como aquele mil vezes repetido do caubói que vira a mesa do jogo de pôquer e começa a atirar. Naqueles tiroteios havia sempre o estilhaçar de vidros: das mangas dos lampiões às garrafas logo acima da cabeça do barman – sempre pretensamente neutro.

Reajo às cartas marcadas do pensamento como um caubói dos faroestes de antigamente: sem muita reflexão e lançando projéteis que querem estilhaçar a fragilidade do lugar-comum que se pretende inatingível ou inquebrável. (Não dá pra querer ganhar de um pistoleiro profissional com cartinhas marcadas ou com movimentos de mãos já meio enlanguescidos pelo uísque).

Alcanço a perfeição mesmo quando não contenho minha verve, mas a cena tem um tom de comédia e o mocinho é meio clown, como o Trinity. Se tudo dá certo, meus disparos são só um bangue-bangue, um tiroteio divertido, ruidoso. (Nada que se aproxime à reverencia silenciosa das metralhadoras do primeiro Matrix).

Acho que é isso: silêncio não combina com iconoclastia. Digamos que não cai bem. Nem silêncio, nem reverência.

Cinthia Oliveira

Para o Luiz Fernando, como um pedido de desculpas.

Imagem: Sancho Krazz / Eladio Oduber / maio 2008

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

As-salaam-alaykum,
Kaifa-haluk? (Como vai?), vagando a vontade por este mundo me deparei com essa sua infâmia magnífica, a iconoclastia. Mabrook (parabéns) pelo bang-bang pastelão, mas caubói é um mal símbolo para um iconoclasta. Afwan (com sua licença) não 'enterres meu coração na curva de um rio', Na'am (sim) me convides para derrubar mais duas torres. Do verbo, nasce o símbolo, pai de todos os ídolos.
Shukran jaziilan (muito obrigado), ma'as-salama (tchau)

7:38 PM  
Blogger Luiz Fernando said...

Caríssima Cínthia,

O texto é excelente, como não poderia deixar de sê-lo.

O bang-bang do cotidiano só enriquece.

Quanto ao oferecimento, agradeço. Quanto ao pedido de desculpas (ignoro - hehe), o mesmo é totalmente descabido (hehe). Não há qualquer motivo para tanto.

Tchau Tchau

10:42 AM  

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