Conversação com Jean Guillerme.
Roble: Que fazes sozinho, aqui nesta esquina?
J.G.: Estou observando as mulheres que fazem propaganda de se mesmas...
Roble: Imagino a felicidade que isto te traz
J.G.: A felicidade é uma coisa de servos.
Roble: Então, se não é a felicidade, o que procura a tua alma nesta esquina?
J.G.: Minha alma é, apenas, uma antiga e venerável hipótese. Ela nada procura.
Roble: E então, qual é o sentido de olhar as mulheres que passam?
J.G.: Apenas colocar minha vida entre aspas, ou, tal vez, colocar uma vírgula entre algum dos seus períodos. Pode ser que eu esteja imbuído de um espírito proto-científico como Servet, Harvey ou Legnano e queira explicar a me mesmo o mundo desde um ponto de vista anatômico.
Roble: Realmente as formas femininas desta rua são feituras prodigiosas!
J.G.: Sim, gostaria de guardar este mundo de beleza gentil, intacto, bem conservado religiosamente, a pesar de não o entender muito bem.
Roble: Pode-se dizer que tentas fazer uma leitura atenta e amorosa desta rua?
J.G.: Não sei, a minha questão é a procura de certo caos filosófico. Gostaria de perder a compreensão integral dos fatos...
Roble: Como assim?
J.G.: Esta esquina e suas bondades têm uma ligação com as minhas mentiras internas. É uma mistura de santidade e beleza que retira completamente a clareza do meu espírito.
Roble: E que mais...
J.G.: Então, consigo ocultar o sentido último dos meus próprios atos.
Roble: É um tipo de personalidade confusa a sua!
J.G.: Gosto mais de considerar-me um morto contraditório e inquietante...
Roble: Devo dizer que teus pontos de vista ultrapassam minha compreensão. Pensei que sua espera nesta esquina estivesse relacionada com o “viver plenamente” as horas da vida
J.G.: Ninguém fica imune à beleza do paradoxo. Ele explode qualquer momento idílico. Vejo que a flama das minhas razões queimaram as palmas das suas mãos.
Podes retirar-te agora e não ser espectador de esta costura de signos trágicos. Ainda devo dizer-te que omiti a verdadeira razão da minha espera.
Não participo da filosofia gelatinosa do “viver plenamente”. Este é um eufemismo do tédio existencial. Uma espécie de bulimia vital que acomete às pessoas que detêm muita saúde, otimismo, e vida de sobra sem significação.
Eu não procuro “viver plenamente” como quem procura um último copo de bebida forte no final de uma noite fracassada.
Eu procuro simplesmente “viver”. E no final, se o consigo, me sinto poderoso. Com a suficiente potencia moral para enfrentar “o pior” do dia seguinte.
Você me perguntou: O que fazes aqui nesta esquina? Agora te respondo: estou à longa espera de me mesmo.
Roble (devagar se afasta, caminhando pensativo): J.G. é um cara muito chato... Deus me defenda...
Abraços a todos do Eladio
PS: A Diego pela insistência...
Conferir:
Octávio Paz: “As Peras del Olmo”
Max Weber: “Ciência e Política como vocação”
F. Nietzsche: “Para Além do bem e do mal”
Lima Barreto: Contos
J.G.: Estou observando as mulheres que fazem propaganda de se mesmas...
Roble: Imagino a felicidade que isto te traz
J.G.: A felicidade é uma coisa de servos.
Roble: Então, se não é a felicidade, o que procura a tua alma nesta esquina?
J.G.: Minha alma é, apenas, uma antiga e venerável hipótese. Ela nada procura.
Roble: E então, qual é o sentido de olhar as mulheres que passam?
J.G.: Apenas colocar minha vida entre aspas, ou, tal vez, colocar uma vírgula entre algum dos seus períodos. Pode ser que eu esteja imbuído de um espírito proto-científico como Servet, Harvey ou Legnano e queira explicar a me mesmo o mundo desde um ponto de vista anatômico.
Roble: Realmente as formas femininas desta rua são feituras prodigiosas!
J.G.: Sim, gostaria de guardar este mundo de beleza gentil, intacto, bem conservado religiosamente, a pesar de não o entender muito bem.
Roble: Pode-se dizer que tentas fazer uma leitura atenta e amorosa desta rua?
J.G.: Não sei, a minha questão é a procura de certo caos filosófico. Gostaria de perder a compreensão integral dos fatos...
Roble: Como assim?
J.G.: Esta esquina e suas bondades têm uma ligação com as minhas mentiras internas. É uma mistura de santidade e beleza que retira completamente a clareza do meu espírito.
Roble: E que mais...
J.G.: Então, consigo ocultar o sentido último dos meus próprios atos.
Roble: É um tipo de personalidade confusa a sua!
J.G.: Gosto mais de considerar-me um morto contraditório e inquietante...
Roble: Devo dizer que teus pontos de vista ultrapassam minha compreensão. Pensei que sua espera nesta esquina estivesse relacionada com o “viver plenamente” as horas da vida
J.G.: Ninguém fica imune à beleza do paradoxo. Ele explode qualquer momento idílico. Vejo que a flama das minhas razões queimaram as palmas das suas mãos.
Podes retirar-te agora e não ser espectador de esta costura de signos trágicos. Ainda devo dizer-te que omiti a verdadeira razão da minha espera.
Não participo da filosofia gelatinosa do “viver plenamente”. Este é um eufemismo do tédio existencial. Uma espécie de bulimia vital que acomete às pessoas que detêm muita saúde, otimismo, e vida de sobra sem significação.
Eu não procuro “viver plenamente” como quem procura um último copo de bebida forte no final de uma noite fracassada.
Eu procuro simplesmente “viver”. E no final, se o consigo, me sinto poderoso. Com a suficiente potencia moral para enfrentar “o pior” do dia seguinte.
Você me perguntou: O que fazes aqui nesta esquina? Agora te respondo: estou à longa espera de me mesmo.
Roble (devagar se afasta, caminhando pensativo): J.G. é um cara muito chato... Deus me defenda...
Abraços a todos do Eladio
PS: A Diego pela insistência...
Conferir:
Octávio Paz: “As Peras del Olmo”
Max Weber: “Ciência e Política como vocação”
F. Nietzsche: “Para Além do bem e do mal”
Lima Barreto: Contos