Recifes de coral
Escrúpulos são um luxo para aqueles que mantêm seus desejos à frente da felicidade geral ou para aqueles que invejam com intensidade.
Existe, de fato, o lado prazeroso de viver acima das nossas posses, como também é delicioso “olhar demasiadamente para” os ganhos do nosso próximo - invidere.
Somente um bucaneiro não necessita acalmar-se interiormente nem sentir aflição ou crises de consciência quando estes sentimentos lhe acometem.
Poucos sabem o que dizem quando falam: “eu tenho princípios”. Princípios são pontos de partida, olhos d’agua, um lugar a partir do qual nossas ações começam.
Quais são os pontos de partida de um pirata? Piratas não conhecem pontos de partida porque não há repouso nas suas almas. A ética da impermanência os torna distantes de todo o que se move em terra firme. Suas verdadeiras motivações são ocultas para eles mesmos e, nem sequer, seus deuses as conhecem.
Piratas não se orgulham dos seus feitos porque tudo o transferem para as fortunas do mar. É difícil encontrar cavalos que carreguem armaduras tão leves como as dos piratas.
“Uma ação é correta desde que comparada a outra produza uma quantidade igual ou maior de felicidade a todos os que são por ela atingidos”. Gosto de este ponto de partida..
Que dirão os bucaneiros ao respeito? provavelmente eles pensam que ao pilhar aproximam suas vítimas da sabedoria porque retiram deles aquilo que os escraviza.
Um pirata é aquele que se acostumou a caminhar com pedras nas botas, produzir um aumento maior ou igual de felicidade é temerário. O índio Warao come larvas e é feliz.
Bucaneiros agem em causa própria e verificam a qualidade das suas ações pela quantidade de solidão que elas produzem. Piratas domesticaram seus scrupûlus: espetos que limitam nossas vidas. Eles são antigos donos dos aguilhões, de brincos, punhais, tatuagens e ganchos. Anônimos e líquidos confiam umas tarefas ao vento e outras à água. O ranger das vozes dos mastros são seus oráculos.
Eu tampo meus ouvidos e saio à procura das minhas liras e espadas. Agora te desafio a mostrar-me a carta de navegação do último amor que tirou tua tranqüilidade para sempre. Aquele que esvaziou os cofres e os toneis e te desviou para os recifes de coral.
Posso trocar os adjetivos da tua retórica pelos seus antônimos, assim ficará neutralizada e pálida, frágil e sem vida como aquela velha caveira que flameja medrosa no teu navio.
Eladio Oduber
Conferir: SINGER, Peter. Ética prática. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
Imagem: www.sixwise.com
Existe, de fato, o lado prazeroso de viver acima das nossas posses, como também é delicioso “olhar demasiadamente para” os ganhos do nosso próximo - invidere.
Somente um bucaneiro não necessita acalmar-se interiormente nem sentir aflição ou crises de consciência quando estes sentimentos lhe acometem.
Poucos sabem o que dizem quando falam: “eu tenho princípios”. Princípios são pontos de partida, olhos d’agua, um lugar a partir do qual nossas ações começam.
Quais são os pontos de partida de um pirata? Piratas não conhecem pontos de partida porque não há repouso nas suas almas. A ética da impermanência os torna distantes de todo o que se move em terra firme. Suas verdadeiras motivações são ocultas para eles mesmos e, nem sequer, seus deuses as conhecem.
Piratas não se orgulham dos seus feitos porque tudo o transferem para as fortunas do mar. É difícil encontrar cavalos que carreguem armaduras tão leves como as dos piratas.
“Uma ação é correta desde que comparada a outra produza uma quantidade igual ou maior de felicidade a todos os que são por ela atingidos”. Gosto de este ponto de partida..
Que dirão os bucaneiros ao respeito? provavelmente eles pensam que ao pilhar aproximam suas vítimas da sabedoria porque retiram deles aquilo que os escraviza.
Um pirata é aquele que se acostumou a caminhar com pedras nas botas, produzir um aumento maior ou igual de felicidade é temerário. O índio Warao come larvas e é feliz.
Bucaneiros agem em causa própria e verificam a qualidade das suas ações pela quantidade de solidão que elas produzem. Piratas domesticaram seus scrupûlus: espetos que limitam nossas vidas. Eles são antigos donos dos aguilhões, de brincos, punhais, tatuagens e ganchos. Anônimos e líquidos confiam umas tarefas ao vento e outras à água. O ranger das vozes dos mastros são seus oráculos.
Eu tampo meus ouvidos e saio à procura das minhas liras e espadas. Agora te desafio a mostrar-me a carta de navegação do último amor que tirou tua tranqüilidade para sempre. Aquele que esvaziou os cofres e os toneis e te desviou para os recifes de coral.
Posso trocar os adjetivos da tua retórica pelos seus antônimos, assim ficará neutralizada e pálida, frágil e sem vida como aquela velha caveira que flameja medrosa no teu navio.
Eladio Oduber
Conferir: SINGER, Peter. Ética prática. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
Imagem: www.sixwise.com
2 Comments:
Querido Eladio,
Ao ler esse texto maravilhoso fui deixando me conectar com meus intintos mais profundos da minha alma, onde me vi em altos mares numa aventura sem fim, como uma pirata "pirada" livre sentindo o vento no rosto sem direção.
Trago no sangue a alegria de minha avó que veio parar aqui no Brasil, atravessando mares, sentindo o gosto do que a nova terra poderia lhe trazer. Ela espanhola de nascimento mas cigana de coração.
Essa viagem toda me levou ainda mais longe, relembrando quando o meu pai contava que para conseguir chegar aqui nesse pais, precisou atravessar um grande deserto e pegar um navio, foi a primeira vez que ele via o mar. Seus olhos se enchiam de lágrimas ao me contar que sentado na proa do navio se sentia uma mitura de sheike e pirata desbravando os mares e chegou.
Esse texto de alguma maneira me fez muito bem, despertou dentro de mim essa alma de multiplas motivações que muitas vezes não sei da onde vem, ocultas para mim, mas reveladoras para aminha alma.
Beijos
Liss
ahá!!! uma provocação!!! o que eu seria se não me provocassem? um dissertador? um relator? descritor? não sei! minha sabedoria insurge de vísceras retorificantes! se penso então... lógica! se me afeto... meus afetos! lá se foi minha liberdade de novo! mas quando como ou bebo... ah... minhas vísceras! sim, vomito panfletos, defeco retóricas, urino o terceiro excluído. quanta crueldade. mas sou esperto. pulo sobre tudo isso. sigo. não tenho orgulho? sou orgulho! sim! certa vez conheci um herege chinês que disse que tudo era yin e yang. outro, porém grego dizia que tudo é ou não é. minhas vísceras deram uma retumbante gargalhada sobre tais pêndulos. assim me arremessando de volta ao mar. sem solidão. apenas lobos do mar! lobos de ilhas! matilhas! trocar meus tesouros? minhas provocações? meus adjetivos? sinto muito. não tenho nada para trocar. queres um pouco do que ofereço? um pouco de meu caos, de meus artifícios, de meus absurdos? salte para cima de meus negativos acasuais e arranque minhas vísceras. assim tu me neutralizas. tiras de mim a fonte dos amores, dos ódios e das indiferenças que me intranquilizaram, intranquilizam e intranquilizarão.
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