O Juízo Final
O esforçado estudante de saxofone improvisa diante dos examinadores. Depois de terminar, os professores deliberam e o reprovam.
O jovem saxofonista, desapontado, quis tomar satisfações. Um dos professores justifica a menção: “faltou ao seu improviso profundidade estilística”. Era verdade...
Ausência ou presença de estilo diferencia um artista de outro. Entretanto, “estilo” não é uma categoria metafísica. Estilo é síntese e mudança ao mesmo tempo. Sem estes dois elementos qualquer arte torna-se ingênua... ou melhor, torna-se inerte.
Algum dia seremos julgados pelo casal de amantes que inundam os planetas com suas gotas de suor. Virando seus rostos na nossa direção nos perguntaram em uníssono:
A qual das suas atividades você dedicou forças, ou ofereceu tempo e alma para que ocorre-se nela alguma mudança estilística?
Qual dos seus desejos cresceu ou superou a imobilidade?
Qual deles triunfou sobre a doença e avançou além do girar eterno e obsessivo entorno dos antigos traumas?
Qual foi mutilado? Qual ultrapassou a infância ao ponto de poder afirmar: assim pintava, escrevia e dançava eu antigamente. Assim danço pinto e escrevo hoje!
Qual dos seus desejos teve infância, maturidade e velhice?
Qual permaneceu ingênuo?
... Que pena faltou na sua vida "profundidade estilística" meu caro pedestre.
Eladio Oduber
Conferir: OSTROWER, Fayga. Acasos e criação artística. Rio de Janeiro: Campus 1995.
Cooker Jerry. Improvisando em Jazz. [Sine data nem loco]
Imagem: Jarra ingênua. Eladio Oduber. Outubro 2007
* Anónimo... do meu caderno de anotações. Que bom seria se esta imágem fosse minha
2 Comments:
Ora, ora, ora... um pouco de tristeza matinal faz bem para nos instigar a refletir sobre nossa presença aqui neste mundinho, nossa vida e, principalmente, nossos sonhos de algo melhor para nós e para os outros. Acho que a isso se referia Aristóteles quando disse que "se existe, para as coisas que fazemos, algum fim que desejamos por si mesmo e tudo o mais é desejado por causa dele... evidentemente tal fim deve ser o bem, ou melhor, o sumo bem". Que bom ter vocês de novo aqui. Graça.
Mestre do sumiço (transubstanciação?)!
Sua jarra não tem nada de ingênua (na
sinonímia que você aponta: inerte).
Nem mesmo naïff ela é. Me pareceu que continha
boa dose daquele líquido
amoroso que escorre da epígrafe do seu texto.
Este que, apesar da ortografia
algo portunhola, é sempre erguido sobre boas
idéias e reflexões maestrinas.
Não troco estas pela outra, não mesmo! E só
admito o título da tela caso ele
se refira à ingenuidade de crer num certo ideal
de país a que o futuro teima
em não chegar. País este cuja bandeira, nada
ingenuamente, se entrevê no
corpo translúcido da jarra, metáfora do homem
transbordante que a engendrou.
Verterão, este e aquela, o suor divino
convertido em lágrimas de exilado
voluntário por vezes não-correspondido?
Seqüelas de um processo de
naturalização cheio de artifícios? De dores de
amores? Das mais-valias da
vida?
Cartas para a redação. Holly ks!
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