Sobre pesquisa e outras infâmias

Diário de campo de dois espectadores e um pródigo bucaneiro.

sexta-feira, março 16, 2007

Monofonia

Acho que sei por que é tão difícil para algumas pessoas dizer: “não sei”. Trata-se de um gesto automático, produto da instalação, na alma, do software da monofonia existencial.
O homem monofónico tem uma imagem acabada de se mesmo. Ele vive em permanente monólogo. Digamos assim... se vende e se dá o trocado. A representação que o homem monofónico construiu de se mesmo está encerrada. Muito cedo descobriu seus imperativos categóricos, fechou o boteco, quebrou a luneta, deu as costas para o infinito e as estrelas.
O homem e a mulher monofonicos se sentem finalizados. E no arco do coração morto um “the end” em néon pisca eternamente.
O cérebro do homem monofónico repousa num aposento que ele mesmo lacrou para sempre. E no espírito uma pasadificação permanente. É o reino dos momentos já vividos. O limiar do presente lhe provoca náuseas.
Todo o que as pessoas sabem sobre este personagem, ele esconde de se mesmo. O homem monofónico dobra nas esquinas e tromba com a sua pessoa, sempre coincide com ele mesmo, assim como uma bola de sinuca que rola acima de um espelho. É um evento morto. A monofonia lhe permite imitar gestos e idéias, carregar sombras e apegar-se a este mundo como um calango a uma cortiça. Por isso arrota uma resposta para todo.

Abraços do Eladio

PS: Dedico este texto ao amigo Rubens de Oliveira que me inspirou com um escrito de A. E. de Moraes. Sobre o "não sei".

Conferir: TEZZA, Cristovão. A polifonia como categoria ética” In: Fiodor Dostoievski: O profeta da literatura Rusa. revista Cult # 04.

Imagem: Dunas / Eladio Oduber. 1994 (?)

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Querido Eladio,
não sei o que está mais lindo se é o texto ou a sua pintura.Tudo está maravilhoso.

7:09 AM  
Blogger solmma said...

FREalmente, liss mary, antastico o quadro!!!!! O que é isso? óleo?

Tantas coisas a gentes sabem, não é mesmo? Lembro-me de uma atividade - que nunca frequentei - mas cujo título me soava fantástico: "encontro dos ignorantes". Imaginei que, para tal encontro, as pessoas (sem seus títulos) iriam mostrar o que faziam: desde tomar conta de cachorro, fazer bolo de chocolate, e outros domínios técnicos, até o espaço teórico de supor coisas sobre outras coisas: "porque os astros aparecem para uns e não para outros?", por exemplo. Ficaria isnstalada a possibilidade daqueles acontecimentos da "outra cena", gerado pelo simples encontro dos corpos. Saber é sempre pretexto.
Vejo que o "chá na frente do congresso nacional", que você propôs algum tempo atrás, tinha um pouco esse caráter (ou tem ainda, não é? Daqui de Salvador eu não tenho muito como saber. Ele virou um chá virtual é?

10:29 AM  
Anonymous Anônimo said...

Há tempo não lia algo tão simples e verdadeiro. muito bom relfetir sobre essas coisas que nos ajudam a identificar que todos nós fomos, em alguma opiniao, um tanto monofônicos.

4:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

Querido Eladio,
não sei o que está mais lindo se é o texto ou a sua pintura.Tudo está maravilhoso.

nos encontramos as 16:30pm
I love you mach!!!

4:53 PM  

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