Loxodonto brasiliense
Ana Cecília mergulhou, faz tempo, no mundo dos elefantinhos de pelúcia e hoje decidiu olhar de perto um elefante de verdade. Animal elegante e delicado. Mais do que o hipopótamo que parece uma batata suspensa em quatro palitos curtos. Os egípcios e os chineses gostavam de colecionar animais exóticos e a cultura ocidental herdou esse hábito de enclausurar animais para serem observados. Foi uma atitude previsível dos conglomerados humanos que aglutinaram-se nas cidades necessitando olhar, no meio à rotina urbana, seus arquétipos vivos.
As elites financiadoras de viagens sempre precisaram de “evidencias”, “mostras”, “coleções”, em fim... pedaços de humanidade e de natureza dos locais “descobertos” que ajudassem a “reproduzir” esses lugares na metrópole. É a acumulação de informação, riqueza e o roubo histórico na relação centro – periferia.
Nesse circuito do espolio, surgiram personagens curiosos como foi George Psalmanazar, viajante franco-assírio, comedor de carne crua muito temperada que escreveu um tratado em 1704: “Uma descrição histórica e geográfica de Formosa” tornando-se uma celebridade entre os oficiais e a corte inglesa do sec. XVIII. Foi convidado pela universidade de Oxford a dar aulas da a língua de formosa “formosiano”. Mais tarde os geógrafos e missionários duvidaram do seus estudos e o acusaram de plágio. Foi chamado a se defender na Sociedade Real de Geografia Inglesa e, no entanto, conseguiu provar que seus acusadores estavam errados.
George Psalmanazar foi sim um grande mentiroso e sua obra passou a ser conhecida tal vez como o maior caso de plágio já conhecido nos meios acadêmicos. Sua versão sobre a vida e a cultura do povo exótico da ilha de Formosa adquiriu tremendo impacto por que ela foi concebida com as imagens e as caraterísticas que as elites inglesas tinham imaginado e construído sobre o que “deveriam ser” os povos distantes.. Este tipo de situação aparece novamente nos relatos que o Cristovam Colombo e Américo Vespúcio fizeram do Novo Mundo para seus respectivos “sponsors”. Em verdade, Vespúcio “recriou” de forma mais literária suas visões sobre o “descobrimento”. Colombo, entretanto, foi mais “objetivo” mais “verosímil” e por isto “decepcionou” aos seus patrocinadores. Segundo Tzvetan Todorov isto ajudaria a explicar, entre outras coisas, o porque do nome América e não Colómbia para nosso continente.
Ana Cecília aproximou-se do elefante da mesma forma como a semana passada o fez de um aquário num shopping da cidade. Papai olha a Dóris!!, papai olha o Nemo !!!. Comecei a sentir pena dos outros peixinhos anônimos sem história, sem personalidade, sem sonhos. Hollywood domesticou o suficiente estes bichinhos assim como Esopo o fez na antigüidade. “Irmão Urso”, “Procurando Nemo”, “Spirit”, “Bambi”, “Dumbo”, ”Chiken Little”, são alguns exemplos desta escalada antropomorfizadora.
A literatura de Psalmanazar e a humanização que Hollywood faz do mundo animal, foi e é bem sucedida porque fala e trabalha com aquilo que se deseja muito... No final da nossa ida ao zoo Cinthia me fez um comentário alucinante. "As pessoas não vem ao zoológico a ver os animais elas querem ver o ócio dos animais..." Isto último é outra coisa que, todos os dias da nossa vida, desejamos muito.
Abraços do Eladio e Cinthia
Referências:
TODOROV, Tzvetan. (1989) Fictions et vérites. L'Homme - Revue française d'Anthropologie, n° 111-112.
"Orientalism as Performance Art: The Strange Case of George Psalamanazar" By: Jack Lynch, Acesso em 05/03/2006. Disponível em: http://andromeda.rutgers.edu/~jlynch/Papers/psalm.html
Imagem: Max Ernst - Celebes or Elephant
Nesse circuito do espolio, surgiram personagens curiosos como foi George Psalmanazar, viajante franco-assírio, comedor de carne crua muito temperada que escreveu um tratado em 1704: “Uma descrição histórica e geográfica de Formosa” tornando-se uma celebridade entre os oficiais e a corte inglesa do sec. XVIII. Foi convidado pela universidade de Oxford a dar aulas da a língua de formosa “formosiano”. Mais tarde os geógrafos e missionários duvidaram do seus estudos e o acusaram de plágio. Foi chamado a se defender na Sociedade Real de Geografia Inglesa e, no entanto, conseguiu provar que seus acusadores estavam errados.
George Psalmanazar foi sim um grande mentiroso e sua obra passou a ser conhecida tal vez como o maior caso de plágio já conhecido nos meios acadêmicos. Sua versão sobre a vida e a cultura do povo exótico da ilha de Formosa adquiriu tremendo impacto por que ela foi concebida com as imagens e as caraterísticas que as elites inglesas tinham imaginado e construído sobre o que “deveriam ser” os povos distantes.. Este tipo de situação aparece novamente nos relatos que o Cristovam Colombo e Américo Vespúcio fizeram do Novo Mundo para seus respectivos “sponsors”. Em verdade, Vespúcio “recriou” de forma mais literária suas visões sobre o “descobrimento”. Colombo, entretanto, foi mais “objetivo” mais “verosímil” e por isto “decepcionou” aos seus patrocinadores. Segundo Tzvetan Todorov isto ajudaria a explicar, entre outras coisas, o porque do nome América e não Colómbia para nosso continente.
Ana Cecília aproximou-se do elefante da mesma forma como a semana passada o fez de um aquário num shopping da cidade. Papai olha a Dóris!!, papai olha o Nemo !!!. Comecei a sentir pena dos outros peixinhos anônimos sem história, sem personalidade, sem sonhos. Hollywood domesticou o suficiente estes bichinhos assim como Esopo o fez na antigüidade. “Irmão Urso”, “Procurando Nemo”, “Spirit”, “Bambi”, “Dumbo”, ”Chiken Little”, são alguns exemplos desta escalada antropomorfizadora.
A literatura de Psalmanazar e a humanização que Hollywood faz do mundo animal, foi e é bem sucedida porque fala e trabalha com aquilo que se deseja muito... No final da nossa ida ao zoo Cinthia me fez um comentário alucinante. "As pessoas não vem ao zoológico a ver os animais elas querem ver o ócio dos animais..." Isto último é outra coisa que, todos os dias da nossa vida, desejamos muito.
Abraços do Eladio e Cinthia
Referências:
TODOROV, Tzvetan. (1989) Fictions et vérites. L'Homme - Revue française d'Anthropologie, n° 111-112.
"Orientalism as Performance Art: The Strange Case of George Psalamanazar" By: Jack Lynch, Acesso em 05/03/2006. Disponível em: http://andromeda.rutgers.edu/~jlynch/Papers/psalm.html
Imagem: Max Ernst - Celebes or Elephant
3 Comments:
So um par de comentários queridos Cinthia,Ela e Ceci:
Ceci: nao se priocupe pela asociaçao Caraccius-Nemo, eu mesmo (um musssico!!) continuo ouvindo nas musicas de Tchaikovski e Rachmaninoff um plagio flagrante das trilhas sonoras do Pato Donald e o Raton Mickey.Esse cara Disney devería fazé-les um juízo a tudos eles.
Com respeito ao agudíssimo comentario de Cinthia, eu ouví uma vez que "a ambiçao nao é nada mais que uma pobre excusa para quem nao tem o sufficiente sentido común de ser preguizoço"
Federico do Uruguai (pais da molicie automática)
Excelente e agradabilíssimo texto. Sinto que esse - assim como tantos outros - merecia um comentário mais digno de sua verve. Esse me instigou a escrever.
Mas a musa escapa-me e tenho que me contentar então com uma simples - porém sincera - expressão de admiração e apreciação da qualidade e ludismo do texto.
Parabéns!
gazela. manjar felino. leão. troféu em sala de estar. ser humano. seis meses. jibóia satisfeita. corra gazela, corra! sorte dela. fome de leão. ser humano vivo. gazela leão jibóia. empalhados em um museu. extinção. mundo em paz. disneylândia. gazela leão jibóia. tocam rock and roll. vegetarianos. fazem feira. compram. não mais coletam. compram. não mais caçam. credicard mastercard casas bahia verdurão. de qual árvore brotam os presuntos? clonagam talvez? cadê o sangue? que olhos grandes e vermelhos são esses vovozinha?
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