Sobre pesquisa e outras infâmias

Diário de campo de dois espectadores e um pródigo bucaneiro.

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Encontros com Jean Guillerme


Roble: você tem amigos? 


J G: sim, alguns que não são homofôbicos, homofônicos, racistas, machistas ou sem compaixão; 


Roble: qual é tua religião? 


J G: A minha é a do “Narguilê”. Quando o totem não está acesso significa que não estou cuidando do tempo entre amigos, amores, companhias adoráveis que sempre são maiores e melhores que aquelas que eu mereço. Contrária a outras religiões que são um investimento futuro para além da morte. A minha me leva à morte, agora, como uma noiva tomado pelo braço até o mármore abismal; 


Roble: por acaso te comparas aos outros?


J G: Comparo-me sim aos outros, tento faze-lo sem hipocrisia. Desejo dançar diariamente, durante horas, virar ave luminosa. Ir para os pontos de ônibus, e os shoppings centers e ver como a humanidade é tosca, pesada, hipopótamos com carapaças de tartarugas. Soltar a corda, e no dia seguinte, novamente, ser um deles. Começar tudo de novo. Não tem final feliz. 


Roble: já escrevestes um diário? 


J G: já escrevi um semanário, um anuário, tento falar das idéias e não das pessoas a minha subjetividade cansa aos outros, dou um tempo de me mesmo, recolho as velas da minha auto-estima, enfio um alfinete no frágil zepelim dos meus desejos. 


Roble: por acaso  escutas música? 


J G: Se possível, não final da vida, farei toda minha música assim como hoje faço meu pão... Não me iludo, durante dias compro pão da dona Michico da quitanda. A música feita em casa, assim como o pão, requerem vida ritualística, menos apetite pelo poderzinho do dia a dia. 


Roble: fazes exercícios físicos? 


J G: sim, e quando os faço  escuto Brad Mehldau e penso em M.C. Escher e vejo quanta obtusidade há no que estou fazendo.


Roble: por acaso defines planos? 


J G: defino paralelepípedos, bolhas de sabão, círculos empoeirados de estrelas; 


Roble: eres gentil? 


J G: sempre, com todos e todas, com as pedras inclusive. E também com aquele que está muito perto de mim há muitos anos... Eu mesmo; 


Roble: você trabalha com o que gosta? 


J G Isso significa o que? Ganhar dinheiro com a minha paixão? Eu penso em procurar um mecenas, se não achar, procurarei um bom patrão, se não,  procurarei o melhor patrão, “O Estado”. Quero dizer... passarei em um concurso público. A estas alturas... Será que vou gostar do trabalho? Se não, então não obrigarei a minha paixão a me dar dinheiro... As árvores de Romã são tão líricas que seria um desastre vê-las dando ovos... 


Roble: perdoas? 


J G: não, não sempre... Nietzsche ensinou-me que é melhor uma pequena vingança assim ficamos protegidos de nos sentirmos melhores do que o inimigo. 


Roble: eres otimista? 


J G: cultivo uma dose de  fatalismo que me permite libar o senso dramático dos meus dias. O otimismo, nos termos hoje colocados, é o mais oco e superficial dos pontos de vista. É lamentável dividir o mundo em otimistas e pessimistas. Prefiro curvar-me todos os dias à Deusa da Fortuna e confessar-lhe que quando seu leme atinja minha humanidade não esqueço que bebi e comi muito da sua Cornucópia. 


Roble: procuras ajuda? 


J G: sim, no coração dos meus amigos que não são homofôbicos, homofônicos, machistas e sem compaixão...

Fecha-se o ciclo.

Quanta felicidade te desejo caro (a) leitor (a) anônimo (a) de Mountain View, Califórnia.

Eladio Oduber

PS2: Obrigado Ana e Cinthia, obrigado Cecília Oliveira por me influenciar e ajudar a organizar estas idéias naquele almoço chinês de domingo...