Sobre pesquisa e outras infâmias

Diário de campo de dois espectadores e um pródigo bucaneiro.

quinta-feira, setembro 22, 2005

O sarcófago e a pesquisa

Pesquisar também está relacionado com “pinçar” objetos do fluxo caótico da vida e dar-lhes nomes, normatizá-los, dar-lhes estabilidade. Daí que a palavra “nomear” provenha do nomos que historicamente se opõe a physis. Em outras palavras, a dicotomia cultura (expressão do nomos) versus natureza (expressão da physis) está no centro do núcleo filosófico das descobertas. Ao final, a ciência é um produto cultural, produto do nomos e não produto da natureza ( physis). Também as normas são fatos sociais produzidos pela cultura. Creio que Bruno Latour inspirou-se na idéia de “objetivação” para falar da estabilização das caixas pretas. A etimologia da palavra sarcófago, do grego sarkophágos (carnívoro), de sarx (carne) e phago (comer), oferece uma interessante metáfora sobre a voracidade das caixas-pretas (descobertas estabilizadas).

Eladio Oduber

Conferir: BERGER, Peter. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulus, 1985. ( introdução) e LATOUR,B. Ciência em Ação. São Paulo: Editora Unesp,2000.


1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ao aportar minha nave pelo egito me vi no século xx em diante. quanta tecnologia em prol da juventude eterna. o que mais me impressionou: os sarcófagos. quanta vaidade pela memória! sei o que vocês dizem meu querido anfitrião e minha querida anfitriã... sabedoria... quanta vaidade pela memória... que reter do fluxo? epitáfios? venho de uma cultura sem cemitérios. assim que nos chegam a morte, somos lançados à água ou abandonados em algum areal. lá nos confins da história. onde temos espelhos cegos e o gosto pelo nada. entregue aos golfos. sem caligrafias e arquivos de poeira. saber, ou sabor como outrora, só nos é possibilidade se coincindir com o nosso singrar à deriva na beleza do devir das coisas...

2:15 AM  

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